Resenha: O Irmão Alemão, Chico Buarque

10:56 Carolina Carettin 0 Comments



O oitavo romance de Chico Buarque – se não contarmos as peças de teatro – chegou às livrarias em novembro de 2014. Em “O Irmão Alemão” (Companhia das Letras, 200 páginas), Chico conta a descoberta de um meio-irmão germânico. Uma história real misturada com ficção, característica que encanta, mas pode confundir o leitor.

Explico o porquê. O autor parte da existência real de um filho alemão de Sérgio Buarque de Holanda, seu pai, fruto de um romance com Anne Ernst na década de 30. O protagonista, Francisco de Hollander ou Ciccio, descobre uma carta de Anne esquecida – ou escondida – dentro de um livro da coleção de seu pai e passa a fantasiar sobre o destino de seu meio-irmão. Muitas vezes, a história real de Buarque e a inventada de Ciccio se confundem. A narrativa em primeira pessoa acompanha o fluxo de pensamento de Ciccio, que mistura cenários do passado, presente e futuro.

Enquanto Francisco tenta achar o paradeiro do irmão alemão e enfrenta o regime militar brasileiro, lida com seu pai, recluso colecionador de livro, e com as amantes de seu irmão brasileiro.

Calma, Ciccio, disse minha mãe, quando já crescido lhe perguntei por que meu pai não escrevia um livro, uma vez que gostava tanto deles. Ele vai escrever o melhor libro del mondo, disse arregalando os olhos, ma prima tem que ler todos os outros.
Para Carolina Araújo Pinho, do site Cheiro de Livro, a rapidez com que Chico transita entre uma situação e outra é, ao mesmo tempo, o melhor e o pior do livro. Concordo. O pior porque, muitas vezes, nos envolvemos de tal forma com a narrativa que, quando o corte acontece, a história torna-se confusa. É preciso parar a leitura para distinguir realidade de pensamento. E o melhor por tornar a história fácil de ser lida e cativante. Não se sentem as páginas, elas fluem, assim como a trama.


Porém, a possível confusão que pode acontecer durante a leitura não vence a interessante história apresentada por Chico. Até porque, enquanto presente, pensamos no futuro, fazemos planos e vivemos o que nem sabemos se acontecerá.

“Chico quis inventar-se ao ficcionar a vida. Não é sobre a vida do Chico, trata-se apenas de uma aproximação, a vida inventada que todos nós experimentamos(…).” – Raimundo Neto, para a São Paulo Review.

0 comentários: